segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ENTREVISTA À REVISTA VIVA

Entrevista: Vereadora Vera Polivalente

Por Leonardo Ortiz

A FORÇA DA MULHER NA CÂMARA

Vera Lúcia Alfredo é são-joanense, divorciada e mãe de três filhos, todos já adultos e bem encaminhados na vida. Passou a maior parte de sua vida exercendo a nobre profissão de professora, dando aulas de Geografia. Falando assim, podemos imaginar mais uma mãe de família de São João, na luta pela sobrevivência e educação dos filhos. Mas quando nos referimos à “Dona Vera Lúcia” como “Vera do Polivalente”, estaremos diante de uma mulher de rara força e determinação, que se tornou um dos grandes personagens do cenário político de São João del-Rei, nos dias atuais.

Formada em Pedagogia e Filosofia e atualmente cursando Direito, Vera Lúcia, a Vera do Polivalente, foi por muitos anos vice-diretora e Diretora da Escola Estadual Governador Milton Campos, mais conhecido como Colégio Polivalente, o que lhe rendeu o apelido. Logo em seu primeiro mandato como vereadora, ela ganhou grande notoriedade, e seu trabalho repercute intensamente nas discussões da câmara de vereadores da cidade, além de já ter protagonizado discursos e debates marcantes durante as assembléias na casa, alguns com repercussão nacional, como o entrevero ocorrido com o Presidente da Câmara, o Vereador Mauro Duarte.

A Vereadora Vera do Polivalente recebeu a equipe de VIVA em seu gabinete e nos concedeu uma enriquecedora e descontraída entrevista:

VIVA – Como surgiu a denominação “Vera do Polivalente”?

Vera – Trabalhei nesta escola entre 1986 e 2007, quando me aposentei. Fui professora de Geografia e exerci o cargo de vice-diretora e Diretora em vários mandatos. Posso dizer que fiz da escola a extensão de minha casa e a ela dediquei mais de 20 anos de minha vida. E gosto do apelido que ganhei, pois na vida temos que ser polivalentes, ser mãe, educadora, profissional do lar, trabalhar fora.

VIVA – Há quanto tempo está filiada ao PT e exerce cargos políticos?

Vera – Me filiei ao PT há 20 anos, e sou do tempo em que tínhamos que manter o partido comprando botons, bandeiras, camisas, etc., e conquistávamos novos adeptos, panfletando nossa ideologia pelas ruas, durante as madrugadas. Este é o meu primeiro mandato como vereadora, mas sempre participei de movimentos sociais, populares e sindicais, procurando congregar e melhorar a vida da comunidade.

VIVA – A maioria das pessoas não sabe exatamente como atuam os vereadores de uma cidade. Fale um pouco sobre o trabalho realizado na câmara e a função do vereador.

Vera – As pessoas realmente não têm conhecimento do verdadeiro papel do vereador. Ainda conservamos a política da “trocas de favores”, do “toma lá, dá cá”, ou seja, a compra e venda de votos. E, por questões culturais, muitos acham que o vereador tem que dar remédios, pagar conta de luz, dar cesta básica, botijão, arrumar emprego, e por aí vai. E o pior, muitos políticos fazem questão de manter essa situação, se apresentando como o grande salvador da pátria e, assim, mantendo o seu curral eleitoral.

O papel do vereador é legislar e fiscalizar, ou seja, apresentar projetos que beneficiem a coletividade, votar a favor ou contra projetos que apresentem alguma ilegalidade, pedir vistas, colocar emendas nos projetos, fiscalizar o executivo e atender a população. Tenho me pautado, nesse papel, apresentando, analisando e pedindo vistas nos projetos do executivo, quando apresentam alguma irregularidade; acompanho as licitações quando possível e faço denúncias quando necessário; participo de conselhos, associações, ONGs e encaminho solicitações feitas pela população. Presto conta do meu mandato através de informativos, blog e site. E ainda atendo a população em meu gabinete.

VIVA – Qual a periodicidade das reuniões da Câmara? Elas são abertas à população?

Vera – As reuniões ordinárias acontecem às terças-feiras, às 16h, e, as extraordinárias, quando necessário. São abertas à população e um dos meus objetivos é justamente levar o povo a freqüentá-las, aliás, isso foi uma das minhas propostas de campanha.

VIVA – Como você define sua atuação como vereadora em São João del-Rei? Pensa em concorrer a cargos maiores na administração da cidade?

Vera – Pelo menos nos próximos anos, não pretendo concorrer a outros cargos. Pretendo continuar na vereança, pois o trabalho é de longo prazo. Tenho uma postura diferente de alguns nobres colegas vereadores, pois não sou clientelista e nem compactuo com projetos individualistas e eleitoreiros. Minha preocupação, enquanto edil, é exercer o papel ao qual fui destinada, com lisura e transparência.

VIVA – Não há como deixar de comentar a confusão ocorrida durante uma sessão na câmara em março, tendo a vereadora e o presidente da casa, Mauro Duarte, como protagonistas, e que teve repercussão nacional. O que de fato ocorreu naquele dia que gerou tanta polêmica?

Vera – A confusão foi desencadeada exatamente pela falta de organização interna da Câmara e pela falta de reunião das comissões. Pertenço à Comissão de Constituição, Redação e Justiça, que analisa os projetos em sua constitucionalidade ou não, para que entrem em votação. Como a Comissão não se reunia, não havia como eu assinar os projetos; mas de modo algum quaisquer projetos deixaram de entrar em pauta por isso. Na verdade, o parecer é técnico e é dado pela assessora da relatora da Comissão. Mas os projetos devem ser analisados e discutidos antes do parecer. Como muitas comissões só existem pra “inglês ver” e eu não concordo com isso, começou a confusão. Ao pedir vistas em um projeto, minha fala foi cortada pelo Presidente da casa, quando eu tentava explicar que não havia recebido o parecer da relatora, e aí deu no que deu. Fui destituída arbitrariamente da comissão. Entrei com um mandado de segurança na justiça e fui, através de uma liminar, reconduzida à comissão.

VIVA – Como você avalia o trabalho do Presidente da Câmara e dos demais vereadores? Você consegue apoio da maioria na votação de seus projetos?

Vera – O Presidente da Câmara, Mauro Duarte, tem tentado organizá-la e eu tenho oferecido minha colaboração. Em minha opinião, é preciso rever o Regimento Interno e a Lei Orgânica. As comissões precisam realmente desempenhar as suas funções; os vereadores deveriam discutir mais os projetos antes de entrar em votação. Alguns dos meus projetos são rejeitados pelos nobres colegas, como foi o da Transparência, o nome da Policlínica de Matosinhos e alguns relacionados ao transporte coletivo. Meu projeto da Câmara Itinerante está parado há dois anos, mas não é colocado em votação e desconheço o motivo. Alguns vereadores, muitas vezes, preferem não contrariar a vontade do Sr. Prefeito. O Legislativo não deve ficar atrelado ao Executivo, cada um tem suas atribuições. Porém, com tudo isso, tenho muitos projetos aprovados.

VIVA – Quais os principais projetos de lei em andamento de sua autoria?

Vera – No momento, tenho os seguintes projetos em andamento:

- Votados em 1º turno: PL 6064, “Dispõe sobre a vedação para ocupar os cargos ou funções de secretários municipais, ordenadores de despesas, presidentes e diretores presidentes de autarquias, de fundações, de empresas de economia mista, companhias e institutos do Município”. PL 6143, “Dispõe sobre a inclusão do Dia da Comunidade Italiana no Calendário Oficial da cidade”. PL 6145, “Dispõe sobre a inclusão do tema transversal ´noções gerais de defesa civil e percepção de riscos´, nos currículos da rede pública municipal de ensino de São João del-rei”. PL 6146, “Dispõe sobre a inclusão de conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes nas disciplinas do ensino fundamental de todas as escolas da rede municipal da cidade.

- Em análise pelo jurídico e pela comissão, aguardando para entrar em pauta: PL que “Dispõe sobre a publicação da verba indenizatória mensal de cada Vereador, das diárias de viagens, do reembolso de passagens da Câmara de Vereadores de São João”. PL que “Dispõe sobre a limpeza e colocação de lixeira nos veículos de transporte coletivo do município”. PL que “Proíbe o uso e a comercialização de tintas em spray a menores de 18 anos no município”. PL que “Dispões sobre o uso dos automóveis de propriedade do Município de São João, bem como daqueles de propriedade do Estado de Minas Gerais que estejam aos cuidados de nosso município”. PL que “Dispõe sobre a proibição dos restaurantes populares de descartarem óleos ou gorduras em geral no meio ambiente, em São João”. PL que “estabelece critérios para embarque e desembarque de pessoas portadoras de necessidades especiais nos veículos de transporte coletivo no município.

VIVA – Como é a sua relação e do seu partido com a atual administração do Prefeito Nivaldo?

Vera – A minha relação e do meu partido com o executivo é de respeito. Claro que temos divergências políticas e na gestão pública. Cada partido tem seu programa de governo e sua ideologia, e a nossa é bem diferente. Minha postura como vereadora, é de votar a favor de projetos que beneficiem a sociedade são-joanense e que estejam dentro da lei. Não compactuamos com corrupção e ilegalidade.

VIVA – Você pensa que a população luta pelos seus direitos?

Vera – Infelizmente, falta ainda muita garra nessa luta. Algumas associações, ONGs e sindicatos precisam ser mais atuantes. São poucos os que tomam a frente e vão à luta. O povo precisa se unir mais pra enfrentar os problemas. Existe muita reclamação e pouca ação.

VIVA – Qual o futuro de São João del-Rei, em sua opinião?

Vera – Se nossa cidade continuar com essa desorganização administrativa tende a estagnar, pode “fechar pra balanço”!

VIVA – Se sente realizada na carreira política? Quais são os seus sonhos?

Vera – Para exercer um cargo político, você tem que gostar muito, e é muito gratificante quando você pode ajudar muita gente. Como já tive a oportunidade de falar, muitos desconhecem esse papel político, que é muito importante. O trabalho é muito dinâmico e, às vezes, cansativo. Você se frustra muito, porque depende dos colegas e do executivo, mas é gratificante ver aprovado um projeto seu e que atenda ao coletivo. As pessoas são muito carentes, e, muitas vezes, enxergam no político aquele que vai resolver todos os seus problemas. Um dos meus maiores sonhos é ver uma sociedade com menos desigualdade, mais fraterna, mais organizada, da qual todos participem e onde todos possam viver em prol do bem comum.

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